sexta-feira, 3 de março de 2017

Pequenos grupos


Os pequenos grupos nascem de uma necessidade de sobrevivência. Foi assim que a igreja de Jesus começou para escapar à perseguição e fintar os obstáculos político- religiosos impostos pela influência dominante: o poder corrupto de Roma e o judaísmo inquisitório.

Nos pequenos grupos os cristãos eram exortados e serem cidadãos de excelência afim de que a comunicação da sua fé fosse pautada por um exemplo de vida e não apenas uma superficialidade de uma nova religiosidade. A credibilidade da igreja, ou a mensagem de que o Messias de Israel tinha vindo conforme as promessas, só poderia ser aceite se o povo visse nos discípulos de Jesus, não apenas “uma nova religião” mas efetivamente um novo exemplo de vida. Por conseguinte, a mudança que o Messias Jesus tinha introduzido na vida dos discípulos tinha que ser visível em cada seguidor, tanto na sua aparência como nas suas obras.


Há inúmeros exemplos de como no livro de Atos dos Apóstolos as casas dos cristãos eram usadas para ensino, debates, evangelização, oração, consolidação da fé, etc… ou seja, enquanto lá fora o mundo era hostil ao desenvolvimento de uma nova vida e expressão pública da fé em Cristo, nestes pequenos grupos, os crentes eram capacitados para uma nova vida, um novo desafio na sociedade.

O princípio, aplica-se portanto, a pessoas que querem aperfeiçoar o seu relacionamento conjugal, a sair dos alcoolismo, a resolver um problema de depressão, a aperfeiçoar um projeto comunitário comum.

Uma regra comum nestes grupos era a oração, tal como vemos no caso da libertação de Pedro da prisão. Os fiéis estavam reunidos em casa de Maria, mãe de João Marcos.

O resultado dos grupos pequenos é uma melhor comunhão entre os participantes e consequentemente um melhor relacionamento e amizade genuína.

“A igreja necessita de uma nova estrutura de vida congregacional que viabilize encontros genuínos entre pessoas, despidas das suas máscaras e desconfianças, num ambiente em que os relacionamentos interpessoais se dão ao nível da verdadeira humanidade de Cristo.” (Desconhecido)

O modelo regular de culto em muitas igrejas é: louvor, oferta, anúncios, palavra, oração final e, de vez em quando, um evento. Claro que alguns líderes mais atentos ficam incomodados quando alguns crentes são convocados para um evento e naquela ocasião chave eles não aparecem! Claro… não aparecem porque o relacionamento comunitário não é a constante na congregação mas apenas um acidente eventual. Por variadas razões as pessoas são furtivas a relacionar-se. Gostam de adorar a Deus, gostam de ouvir a palavra, querem ter algum tipo de compromisso com “o corpo” mas não estão comprometidas com a comunhão. Será que são eles apenas que estão errados?

Outro perigo da atualidade é evidentemente as redes sociais onde as pessoas, além de adquirirem todo o tipo de desinformação, ainda se apresentam para criticar tudo o que não gostam, ficando para trás a capacidade de um confronto genuíno dos nossos valores e comportamentos. Algumas pessoas comportam-se nas redes sociais como um pregador no púlpito: só debitam informação! Se porventura alguém se atrever a contestar o que foi dito ficam irritados, isto é: apresentam sintomas de incapacidade de comunicar em sociedade.

Os grupos pequenos são facilitadores do diálogo. As pessoas precisam de conversar, desabafar, (re)aprender a comunicar, a gerir formas diferentes de ver as questões, ser confrontadas com as suas imperfeições. Os grupos pequenos são uma resposta eficaz ao isolamento da sociedade que é favorecido com o excesso de intrusão que todos dias entra pela casa a dentro de muitas famílias.

Perigos.

Alguns líderes não gostam das reuniões em casa ou de pequenos grupos por motivo de, infelizmente, alguns grupos tornarem-se num antro de intriga e murmuração podendo tornar-se numa ruína maior do que aquela que as redes sociais hoje em dia já provocam.

Efetivamente, confiar certas estratégias chave para um desenvolvimento saudável de pessoas requer facilitadores treinados para conduzir estes grupos e com princípios muito claros, contudo, o isolamento e a ausência de relacionamentos é pior que os riscos a que por todo o lado estamos expostos.

Algumas regras básicas que podem ser colocadas para um bom funcionamento dos grupos.
- Definir claramente o propósito do grupo;
- Compartilhar (em sessão de grupo) com todos os elementos e não com alguém em particular;
- Nunca falar sobre alguém que esteja ausente;
- Falar sobre a sua vida e não sobre a dos outros;
- Manter o mesmo espírito de diálogo nas conversas pessoais nos momento de confraternização informal.

(Sobre a gestão de grupos a Cruz Azul tem mais informação sobre isto)

Conclusão.

Cada vez que nos reunimos, quer em assembleia, em grupo, em família, em reunião de trabalho, temos um propósito: até mesmo quem deixa a mulher e os filhos em casa e vai para o ginásio ou taberna tem um propósito; quem deixa a sua esposa na cozinha e vai para o facebook também tem um propósito; tudo o que faz com que nos movamos de um ponto A para um ponto B tem um propósito. Só para a vida, depois de andarmos desfocados de um lado para o outro o tempo todo, é que parece que as pessoas perdem o propósito (da vida). Desperdiçaram a sua vida com tantos propósitos temporais que se esqueceram do foco principal: Deus, a família e a comunidade.

Os pequenos grupos não são em exclusivo para quem tem uma necessidade, uma disfunção qualquer ou um comportamento desajustado. Num segundo plano os familiares destas pessoas também se recusam a participar porque o “problema não é deles mas de quem tem o vício ou um comportamento desadequado”. Bom, convenhamos que em primeiro lugar a sociedade, ou numa escala menor, a família é dirigida por pessoas funcionais e na posse de uma lucidez perfeita face à realidade do que é “um mundo ideal” ou mais funcional. Logo, do mesmo modo que um capitão não deve abandonar o leme do seu navio no meio da tempestade, então as pessoas “mais normais” é que deveriam ser as mais presentes nos contextos de intervenção social para resolver as dificuldades que estão por resolver na família, no grupo social, na sociedade. Despejar a resolução dos problemas para os outros também parece ter algo de disfuncional no comportamento.

Em conclusão, os pequenos grupos, desde que sejam formados com bons alicerces, são boas ferramentas para o nosso desenvolvimento pessoal, para estreitar laços de amizade genuína, crescer na fé e para resistir às hostilidades que ameaçam a nossa vida pessoal, familiar e comunitária.

Samuel Dias.



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