sábado, 5 de janeiro de 2013

Como surgiu a Cruz Azul no mundo


Um jovem pastor chamado Louis-Lucien Rochat passou parte de seu tempo de estudos (1875/76) em Londres, Inglaterra. Ali interessou-se por muitas instituições de beneficência, entre outras, também a do Dr. Bornados. Numa dessas instituições ele tomou parte da Santa Ceia, a qual para sua admiração foi servida com suco de uva, portanto sem álcool. Explicaram-lhe que nessas instituições (da Santa Ceia) encontravam-se muitas pessoas libertas do álcool vindas dos subúrbios de Londres, e que para muitos o simples experimentar de uma pequena quantidade de vinho já bastava para uma recaída.


Essa experiência comovia Rochat sempre de novo, principalmente o pensamento e a amostra de que era possível viver em total abstinência ao uso de qualquer bebida alcóolica. O que mais o impressionava era o grande amor de certas pessoas, que indiferente a certos comentários e críticas dedicavam grande parte de suas vidas a irem aos “porões” de Londres para libertar pessoas da miséria do álcool. Com muitos destes “salvos” Rochat conversava, e um deles lhe contou: “... 50 anos vivi na escuridão do álcool. Agora estou salvo, liberto do álcool. Eu creio em Jesus Cristo! E, agora em gratidão à Ele eu quero ajudar a resgatar e salvar outras pessoas presas também ao vício do álcool”.

Em Janeiro de 1876 Rochat assumiu o compromisso de abstinência total de qualquer bebida alcoólica. e a experiência que teve em Londres acompanhou-o no seu regresso à Suíça. 
O Seu primeiro pastorado foi na pequena localidade de Cossonay - Suíça Francesa, onde chegou numa terça-feira, no dia 31 de Outubro de 1876. De quarta-feira a Domingo ele visitou os crentes da comunidade e no Sábado fez o primeiro funeral a um pobre alcoólico que tinha sido encontrado morto na sua cama. No decorrer dos meses seguintes ocorreram na comunidade várias outras mortes violentas, entre elas alguns suicídios de alcoólicos. O jovem Rochat descobriu todas formas de pobreza causadas pela falta de controlo da bebida.

Um dia ele visitou uma família, em que um pai demente e uma mãe preguiçosa com uma filha de 13 anos, e dois filhos de 12 e 7 anos, viviam juntos num quarto completamente imundo que só tinha uma janela e duas camas cheias de insetos. Ao voltar para casa, L.L. Rochat escreve em seu diário: “Eu nunca teria acreditado que no nosso país existisse tanta miséria. Quando nós vemos tais pais e imaginamos que podíamos ter nascido em tais condições... Que responsabilidade! Senhor, ajuda-me a não esquecer isto.”


O ano de abstinência para o qual ele tinha se comprometido a título de experiência, acabava em 8 de Janeiro. Subentende-se que ele continuou a praticar a abstinência, com cada vez mais convicção, no entanto – assim parecia – com cada vez menos resultado. A sua abstinência pessoal não encontrava seguidores e muitas pessoas o contemplavam como um visionário louco.


Mas ele cada vez mais perguntava a si próprio se o que havia vivenciado em Inglaterra não seria também aplicável na Suíça. Enquanto ele sentia a necessidade urgente de lutar contra o abuso, ele começava também a ter uma noção das dificuldades que teria de enfrentar numa cruzada desta envergadura. A solidão na qual ele se encontrava por causa disso tornava-se insuportável e por isso ele percebeu que precisava a todo custo encontrar ajuda e formar uma liga de voluntários.


Ele encontrou essa ajuda na pessoa de Charles Fermaud, um comerciante bernense que, como Rochat tinha voltado da Inglaterra como abstinente, e que permanecia sóbrio já há alguns anos. O mesmo era também presidente da Mocidade para Cristo local e isto foi um encorajamento pois agora ele não estava mais sozinho.


Foi na manhã de 21 de agosto de 1877 que ele compreendeu que Deus o tinha chamado para uma tarefa especial na luta contra o alcoolismo e então colocou-se totalmente à disposição dessa causa.

Ele descreveu essa hora importante de sua vida como segue: “Ao acordar no dia 21 de Agosto de 1877 eu estava especialmente inquieto e sentia a necessidade de um serviço especial contra a dependência do álcool. Mas, eu disse a Deus: "Não, meu pai, eu não, um outro! Eu gostaria de acompanhar alguém e apoiá-lo, mas eu não posso começar uma obra para a salvação dos beberrões. Levantei-me, e a minha luta continuou durante a higiene matinal, até o momento em que eu caí de joelhos como um vencido e clamo: OK! Então, meu Deus, não seja como eu quero e sim como tu queres! Aqui estou para fazer a tua vontade! Apressei-me a vestir e sentei-me na minha escrivaninha. Com toda pressa escrevi uma carta a Charles Fermaud em Genebra onde lhe peço para começarmps uma associação para o auto-controlo...”.

A respeito de como estes dois homens chegaram a se conhecer, Rochat escreveu: 
“... Cada vez mais claro eu sentia que somente através de uma ação conjunta seria possível agir nesta área. Assim, eu me perguntava constantemente se eu não deveria fazer contacto com esse Sr. Fermaud. Foi então que lhe escrevi uma carta, na qual propus que fundássemos conjuntamente uma Associação Suíça de Temperança com fundamento na abstinência total de bebidas alcoólicas...”.

A carta foi escrita no mesmo dia e já um mês depois, em Setembro de 1877, Rochat e Fernand promoveram uma reunião pública num salão na margem direita do que circunda a cidade de Genebra, na Suíça. Lá estavam cerca de 150 a 200 pessoas. O título da mensagem anunciada aquele dia era “O vício da bebida e seu método de cura”. Os palestrantes queriam mostrar aos presentes que apesar de todos os preconceitos, na época, era possível um alcoólico viver em abstinência. Após a palestra foi solicitado que os ouvintes se dispusessem a assinar um compromisso de abstinência de bebidas alcoólicas com a ajuda de Deus. Na ocasião cerca de 27 pessoas declararam-se dispostas a assinar este compromisso no dia 21 de Setembro de 1877.


Um dos pioneiros escreveu: “Este foi o momento do nascimento de um trabalho que de forma abençoada se espalhou inicialmente na Suíça e depois, além de suas fronteiras. Aqui e ali surgiam Associações de abstinência. Os mais empenhados colaboradores e propagadores eram os alcoólicos salvos. Através de um trabalho incansável muitas pessoas foram libertadas das amarras do alcoolismo; para suas famílias. Suas vidas novamente ganharam sentido...”

Esses membros da Cruz Azul assumiram uma tarefa árdua, sendo que nos primeiros anos de desenvolvimento do trabalho não faltaram zombarias e escárnios. Eles eram ameaçados e atiravam-lhes pedras mas a consciência de sua grande tarefa dava-lhes sempre de novo as forças para que incansavelmente continuassem a trabalhar
.

Ainda, no ano da fundação, o pastor Rochat procurou por novos obreiros. Ele descobriu que em Bern, na paróquia francesa da Igreja Livre, atuava um pastor que também era abstinente e em quem o combate ao vício estava no coração, e contactou-o. Chamava-se Arnold Bovet.

Bovet declarou-se disposto a colaborar e muitos anos depois Bovet escreve a respeito de seu relacionamento com Rochat: “Eu sinto-me forçado a agradecer-lhe de todo coração pela sua persistência e paciência quando me pediu ajuda apesar da minha rejeição inicial. Com isso o senhor introduziu-me numa ação evangelística e num trabalho de aconselhamento, através dos quais minha vida foi enormemente enriquecida e que me permite participar da expansão do Reino de Deus em círculos que antes seriam inatingíveis por mim”.


O início do trabalho da Cruz Azul em Bern, Suíça, logicamente foi muito difícil. Em 1879 Bovet quis fazer uma grande reunião pública aberta a todos e distribuiu muitos convites. Rochat e Fernand assim como alguns abstinentes ingleses vieram de Genf para falar da necessidade de total abstinência para os alcoólicos. No total vieram somente 30 pessoas e desses, apenas 7 assinaram o compromisso de abstinência!

Tanto Rochat como Bovet enfatizavam que na Cruz Azul, a partir do início dos trabalhos, a Cruz Azul se mantivesse política e religiosamente neutra. Assim, nessas Associações podiam unir suas mãos tanto políticos como comerciantes, cristãos, pastores e membros. Todos tinham os mesmos direitos.

Bovet gostava de se denominar de “pietista” (movimento evangélico surgido na Alemanha) para que muitos pastores se envolvessem no trabalho da Cruz Azul. Mas mesmo assim ele sempre enfatizava a Cruz Azul como um trabalho de leigos. Ele dava grande importância a que a Cruz Azul não fosse transformada em “Igreja”, como também não fosse “uma associação de propaganda de Igrejas livres”. Um dos princípios por ele muito usado dizia: “Apenas as pessoas motivadas e independentes são combatentes de verdade na luta contra o álcool. Essa luta porém, só será bem sucedida com a ajuda de Deus”.


Do princípio acima o seguinte moto da Cruz Azul foi fixado: “Salvação de alcoólicos com a ajuda de Deus e de sua Palavra!”.


No dia 13 de Dezembro de 1917 no auditório do calvário, em Genf, aconteceu uma marcante homenagem póstuma. Pouco antes, no cemitério próximo, havia sido sepultado o pastor Louis-Lucien Rochat. Entre muitos outros que lamentavam a morte de Rochat, também estava Elis Drovat, um alcoólico recuperado. As suas palavras demonstraram um pouco daquilo que foi experimentado pelos que foram alcançados pelo trabalho inicial da Cruz Azul: “Há 40 anos, nós ex-alcóolicos estávamos afundados na lama. Éramos desprezados, olhavam para nós como se fossemos animais selvagens. Ninguém nos amava. Então veio Louis-Lucien Rochat. Ele nos amou como amigos, nos viu como seres humanos que podem ser salvos. Ele compreendeu que o alcoólico não é um ser desprezível, mas um infeliz que precisa de simpatia e amor; e isto veio com este homem, com coração de ouro para nos arrancar da nossa miséria. Fio Deus quem o enviou. No último dia 21 de Setembro ficamos a sós, ele e eu. Nós nos abraçamos e nos beijámos. Este beijo de Luis-Lucien Rochat repasso para vós meus irmãos, que foram salvos através do trabalho da Cruz Azul."

No ano de 2002, a Cruz Azul Internacional comemorou 126 anos de história e de existência. O trabalho cresceu e expandiu-se a 51 países do mundo, nos cinco continentes. Milhares de alcoólicos e dependentes químicos encontraram nesse período o caminho para fora da dependência do vício. Alguns, através de um encontro especial com Deus, outros graças à incansável ajuda e acompanhamento de um membro ou de um colaborador da Cruz Azul.

ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO INTERNACIONAL

Logo após a fundação da Cruz Azul Suíça foi também fundada a Cruz Azul na França e na Alemanha, e eles acharam que deveriam trabalhar em conjunto. As mesmas pessoas que junto com Louis-Lucien Rochat fundaram a Cruz Azul Suíça começaram também o movimento internacional.


O movimento missionário chegou a África. Esse desenvolvimento começou nas obras missionárias suíças. Em virtude da dificuldade de comunicação, viagens, etc. nessa época, a administração da Cruz Azul foi concentrada na Suíça, e por isso também ficou baseada nas leis suíças. E, como os estatutos exigiam que o gerência fosse feita por suíços, fica claro que a Secretaria Geral também ficasse na Suíça. Somente no fim dos anos de 1880 foi criada uma abertura para outros países. É importante registrar que na época já existia a Cruz Vermelha Internacional e assim muitas idéias e conceitos foram adaptadas e influenciaram grandemente no trabalho da Cruz Azul.

LISTA CRONOLÓGICA PARCIAL DO DESENVOLVIMENTO DA CRUZ AZUL:

- 1843 > Nascimento do Arnold Bovet em Boudry, Suíça.
- 1849 > Nascimento de Louis-Lucien Rochat em Genebra, Suíça.
- 1874 > Bovet como pastor de Sonvillier compromete-se com a abstinência.
- 1876 > Rochat é conduzido na Inglaterra a decidir pela abstinência pessoal e à luta contra o abuso do álcool.
- 1877 > Em 21 de Setembro é fundada oficialmente a Cruz Azul em Genebra.
- 1880 > Bovet funda a primeira Associação para a temperança suíço-alemã.
- 1880 > Criação da primeira banda de música da Cruz Azul em La Chaux-de-Fonds.
- 1881 > Início do trabalho infantil em Berna.
- 1882 > Recebe-se a autorização oficial para usar o símbolo da Cruz Azul como adereço e símbolo de reconhecimento.
- 1883 > A Federação intitula-se de Associação Suíça pela Moderação Cruz Azul.
- 1885 > Início do trabalho com jovens em Basiléia.
- 1886 > Primeira convenção da Cruz Azul.
- 1890 > Fundação da Federação Internacional (Alemanha, França, Bélgica e Suíça).
- 1903 > Morte de Arnold Bovet.
- 1917 > Morte de Louis-Lucien Rochat.
- 1947 > Fundação do primeiro clube masculino em Berna através de W. Imobersteg.
- 1949 > Primeira semana de reflexão sobre alcoolismo em Walzenhausen, realizada por W. Gerosa.
- 1953 > Primeiro acampamento internacional da juventude da Cruz Azul na Holanda.
- 1979 > Fundação da Federação da Juventude Europeia da Cruz Azul.

O USO DO NOME, SÍMBOLO e COR USADOS PELA CRUZ AZUL

No início a organização era chamada de Associação Suíça pela Moderação. O fundador Louis-Lucien Rochat achava que seria suficiente promover a moderação do consumo do álcool. Mas rapidamente ficou claro que isto geralmente não é possível para as pessoas que são doentes alcoólicos. Assim decidiu-se que por solidariedade aos dependentes também os membros deveriam viverem abstinentes.


Um dia, num discurso sobre a sua organização Rochat fez uma comparação bastante forte não apenas com o trabalho médico do exército, mas com o grande trabalho de um outro homem de Genebra, Henri Dunant, fundador da Cruz Vermelha Internacional. Repentinamente passou como uma fagulha na cabeça de Rochat: ter e usar uma Cruz Azul como os membros Cruz Vermelha o faziam. Na reunião anual de 1883 foi decidido ter a Cruz Azul como sinal da filiação e bandeira da Entidade.

É importante registrar que 
além da Cruz Vermelha e Cruz Azul também outros trabalhos comunitários fazem uso da cruz para identificar seus trabalhos, serviços de ajuda e apoio. Existem também organizações que usam a Cruz Branca para demonstrar que os mesmos atuam na área de aconselhamento e apoio para os que estão envolvidos em prostituição ou que perderam a vontade de viver; a Cruz Preta envolvida com o trabalho de ajuda a presidiários condenados à morte; a Cruz Verde, com questões de ecologia, entre outras.

Quanto a questão do uso da cor azul a explicação histórica é a seguinte: Francis Murphy começou em 1880 um grande movimento de abstinência alcoólica nos Estados Unidos, mais tarde chamado de “Movimento-da-Blau-Band (faixa azul)”. Tal movimento chegou a Inglaterra, onde Louis-Lucien estava, e ouvindo sobre isso ficou influenciado a tal ponto que ele pensou em levar e adotar tal proposta e idéia para a Europa, e de que os cristãos também deveriam viver abstinentes de forma a ajudar a doentes de alcoolismo. Nos primeiros anos aqueles que se associavam a Rochat usavam uma fitinha azul como sinal de abstinência.


A idéia da fita azul vinha da Bíblia conforme a passagem de Números 15:37-39. Entretanto, deve ser mencionado aqui que em algumas traduções da Bíblia a cor mencionada é violeta ao invés de azul.


Números 15:37-39 "Disse mais o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes que façam para si franjas nas bordas das suas vestes, pelas suas gerações; e que ponham nas franjas das bordas um cordão azul. Tê-lo-eis nas franjas, para que o vejais, e vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor, e os observeis; e para que não vos deixeis arrastar à infidelidade pelo vosso coração ou pela vossa vista, como antes o fazíeis."

Sem comentários:

Enviar um comentário