“Cá se fazem, cá se pagam”. A vingança está latente no coração do homem e muitas vezes é confundida com justiça mas são coisas diferentes.
A vingança é um ato de retaliação sem moral e sem lei aplicada pelo próprio ofendido ou por um enviado seu; a justiça, para ser aplicada exige a presença de um juiz, que se supõe ser uma pessoa neutra, e uma lei. Porventura as consequências serão mais devastadoras se executadas pelo ofendido, ou pelo seu mandatário, e atiçarão ainda mais o ódio entre as partes, até que, eventualmente, se interponha alguma autoridade que aplique o justo castigo à medida da lei existente.
A vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que pacificador. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar pelo que passou e/ou garantir que de novo não seja capaz de repetir a ação primeiramente cometida. A justiça pelo menos visa repor a ordem, ressarcir o ofendido e alcançar a paz.
A vingança funciona como uma forma de restituir o poder quando este está em estado de ameaça. A imprevisibilidade deste ato brutal é que frequentemente sai fora do controlo de quem o pratica. Muitos acreditam que uma boa vingança produz uma boa vitória sobre sua ira. Mas, quem pensa que agir desse modo faz algo de bom para si, cedo ou tarde terá que lidar com outra consequência: o remorso.
A vingança pode ser apenas um ato de pensamento: “Bem-feito! Teve a paga que merecia” Este sentimento, a existir dentro de nós, apenas revela como o nosso coração está revoltado com alguma situação que pode nem sequer ser uma causa nossa.
Nenhuma ordem é restabelecida através da vingança. Por vezes nos lares existe sentimentos de vingança contra o cônjugue, contra os filhos, contra pais ou irmãos. “Más respostas”, “agressividade”, “retaliações verbais” são atitudes frequentes de vingança tipo "bola de neve" e são indicadores de que muita coisa não está bem na família.
“A vingança serve-se num prato frio”. O ditado diz que o destinatário tem que “comer frio”. Contudo o mesmo provérbio diz que alguém tem que “servir”. Portanto, nem um nem o outro alcançarão a paz por esta via, ambos estarão envolvidos numa guerra sem fim à vista.
“Olho por olho, dente por dentre” (Êxodo 21:24) e que inclui “mão por mão, pé por pé” fazia parte da lei dada a Moisés. Naturalmente que tem de haver LEI para punir aquele que prevarica e de certa forma a LEI é um agente vingativo. Quem exigir o cumprimento da Lei está no seu pleno direito. Há pessoas que confundem "exercício de vingança" com "exercício de justiça" pois a Lei de Moisés também refere: "Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor." Levítico 19:18
Agora, querer ser juiz e vingador isso é outra coisa, porque existe algo melhor que a vingança: “Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia; a misericórdia triunfa sobre o juízo.” Tiago 2:13. Este é o nosso problema, queremos ser vingadores mas também temos culpas “no cartório”. É por isso que o melhor é deixar para Deus a vingança: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” Romanos 12:19
Outros conselhos da Bíblia:
“Quando cair o teu inimigo, não te alegres, e quando tropeçar, não se regozije o teu coração; para que o Senhor não o veja, e isso seja mau aos seus olhos, e desvie dele, a sua ira. Não te aflijas por causa dos malfeitores; nem tenhas inveja dos ímpios. Porque o maligno não tem futuro; e a lâmpada dos ímpios se apagará.” (Provérbios 24:17-20)
“Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo, nem o enganes com os teus lábios. Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra.” Provérbios 24.28-29
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.” Mateus 5:38-39
François de La Rochefoucauld:
“A vingança procede sempre da fraqueza da alma, que não é capaz de suportar as injúrias.”
Por, Samuel Dias.
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