Uma reflexão cristã sobre liberdade e responsabilidade.
A primeira associação entre
estas duas palavras, “Alcoolismo em Portugal" tema sugerido pelo Dr. Brissos Lino como tema apresentado no "Fórum Jubileu" em que estvémos presentes, remete-me com facilidade para uma
associação “Vinho na cultura”. (Vinho / Alcoolismo - em /na - Portugal / Cultura). O vinho está rotulado na mentalidade de alguns como uma maleita que se pretende combater e por outro lado, por outros, a cultura como algo que se deve preservar a todo o custo. Na verdade desconheço que haja qualquer organização no mundo ocidental que tenha como missão a extinção da cultura vinícula, e claro, que esta não é a forma razoável de tratar a questão. É apenas uma
amostra (a mentalidade) de como há muito trabalho para fazer nas questões relacionadas com a minimização
dos danos causados pelo abuso do álcool, informação do público e no combate à propaganda falsa dos agentes comerciais que se
aproveitam do desconhecimento popular, lançando no mercado informação falsa
sobre as bebidas alcoólicas.
Questão. Serão as bebidas alcoólicas a raiz de todos os maus comportamentos e a cultura um “vício” de que não nos conseguimos desapegar? Como podemos conciliar cultura e responsabilidade social?
Vamos a números, parágrafo imprescindível de todos os jornalistas que abordam esta questão: “No campo específico do consumo de
álcool entre maiores de 15 anos, Portugal surge em 11.º lugar com 12,9
litros per capita por ano, sendo apenas ultrapassado por
países como Bielorrússia (17,5), Moldávia (16,8), Lituânia (15,4), Rússia
(15,1), Roménia (14,4), Ucrânia (13,9), Andorra (13,8 litros ), Hungria
(13,3), República Checa (13), Eslováquia (13).”
In https://www.publico.pt/sociedade...
In https://www.publico.pt/sociedade...
Mas os números não conseguem
reproduzir os dramas que são vividos dentro das portas de um lar especialmente
onde vivem crianças. E também, por exemplo: um condutor bebeu e teve um
acidente. A quem iremos atribuir a causa? À curva apertada, ao excesso de
velocidade, ao piso escorregadio, ao telefone que tinha na mão ou à bebida?
Obstáculos.
A primeira imagem que muitas
pessoas têm da Cruz Azul e de outras organizações que combatem os malefícios
provocados pelo abuso do álcool, é que de que é uma organização alienada da
realidade social. E há de fato fatores que contribuem para que seja assim.
Já passaram uns anos que
decorreu um episódio que marcou a minha vida e firmou a minha determinação em
prosseguir nesta causa. Certo pastor evangélico, ao saber que recentemente me
tinha envolvido nesta causa, certo dia, encontrou-me em frente à porta da Aliança Evangélica Portuguesa e despejou sobre mim, na frente de outras pessoas, todo o desprezo pela minha escolha com o argumento de que "Portugal tem uma
cultura de tradição vinícola"! Este era o seu foco: a cultura estava acima de
qualquer preocupação com as pessoas que sofrem por causa do abuso da bebida. Ora,
nem mesmo Jesus deixou de censurar comportamentos de hábitos que se tinham
instalado na sociedade judaica a pretexto da religião ou cultura instalada por força de hábitos adquiridos. Mas o que me
marcou neste encontro na presença de outros líderes não foi esse momento de “vexame”, foi quando, cerca de um ano mais tarde, esse mesmo pastor me telefonou a pedir
ajuda para um dos seus filhos pois tinha descoberto o seu abuso na bebida e
garrafas escondidas um pouco por toda a casa. Para este pai, de um dia para outro, a cultura deixou de ser a coisa mais importante nas suas prioridades sociais.
O álcool.
O álcool é a substância
contida nas bebidas alcoólicas e é obtido através da fermentação das frutas que
contêm açucares, como a uva, a maçã, etc... O álcool é inimigo do organismo
humano, do fígado, do esófago, do cérebro, do estômago, do pâncreas. O álcool é elemento perturbador do indivíduo e da sociedade. Os danos psíquicos no indivíduo
e na sua família não são mensuráveis.
O alcoolismo é uma doença. É
uma doença auto infligida. Está classificada como tal pela O.M.S. afim
de facilitar cuidados médicos ao indivíduo afetado por uma incapacidade de só
por si resolver um problema de saúde pessoal e familiar. A classificação de alcoolismo como doença retirou o indivíduo da clandestinidade e da discriminação médica. Da discriminação social já não podemos dizer o mesmo.
O alcoolismo é um vício que
afeta o indivíduo fisicamente, psiquicamente, socialmente e financeiramente. Os
impostos cobrados pelas bebidas alcoólicas não cobrem as despesas dos sistemas
de saúde dos países europeus.
“Doenças cardiovasculares, acidentes, alguns tipos de cancro e patologias do fígado, como a cirrose. As consequências do consumo excessivo de álcool são muitas e estas doenças representam apenas algumas das principais causas de morte atribuíveis a estas bebidas: Portugal é o oitavo país da União Europeia com mais mortes relacionadas com o álcool, indica um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgado nesta terça-feira.”
“Doenças cardiovasculares, acidentes, alguns tipos de cancro e patologias do fígado, como a cirrose. As consequências do consumo excessivo de álcool são muitas e estas doenças representam apenas algumas das principais causas de morte atribuíveis a estas bebidas: Portugal é o oitavo país da União Europeia com mais mortes relacionadas com o álcool, indica um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgado nesta terça-feira.”
“Cerca de 3,3 milhões de
pessoas morreram em 2012 em todo o mundo em consequência do consumo nocivo de
álcool, o que equivale a 5,9% de todas as mortes, revela esta segunda-feira a
Organização Mundial de Saúde. A proporção de mortes associadas ao álcool é
superior à mortalidade ligada ao VIH (2,8%), à violência (0,9%) e à tuberculose
(1,7%), conclui ainda a OMS no seu "Relatório global sobre o álcool e a
saúde 2014".”
Um relato bíblico, retrato
da humanidade neste desvio comportamental.
Génesis 9:20-21 “E começou
Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha. Bebeu do vinho, e embriagou-se; e
achava-se nu dentro da sua tenda. E Cão, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai,
e o contou a seus dois irmãos que estavam fora.”
Não sabemos se Noé foi o
inventor do vinho, a Bíblia não diz isso, diz apenas que ele plantou uma vinha e depois embriagou-se. Não há nenhuma condenação na Bíblia pelo ato cometido por Noé e a classificação de embriaguez como pecado só aparece depois. O que
encontramos é uma consequência familiar como resultado daquela embriaguez. A
família foi afetada porque Cão foi contar a seus irmãos. Pior que a embriaguez foi a denúncia, o gozo, a exposição. Quando Noé despertou do seu vinho e soube da
situação proferiu uma maldição, sinal também de desarmonia, divisão, rotura,
desagrado.
Enquanto que por um lado o
vinho na Bíblia também é sinónimo de alegria, festa, aliança, comunhão, também
é causa violência doméstica física e psicológica, negligência e maus-tratos
sobre crianças, acidentes no trabalho e na estrada.
O problema não é a
substância, é o ser humano. Se não houvesse “vinho”, ou álcool, o Homem usaria
qualquer outra coisa para alucinar o seu organismo e produzir nele efeitos
perturbadores da sua lucidez.
Curiosamente, o Apóstolo
Paulo lista uma quantidade de “substâncias” prejudiciais ao organismo e entre
elas a “farmakeia” vulgarmente traduzida por “feitiçaria”, quando na verdade a palavra refere-se ao envenenamento do corpo com substâncias cuja finalidade não é a cura de
qualquer mal mas a obtenção de prazer pela via da alteração do estado natural
do organismo. Paulo sabia que o resultado da desorganização moral do
indivíduo conduzia a uma panóplia de comportamentos fora do controlo do
próprio. A “bebedice” aparece depois, em meu entender, como consequência e não
como causa.
Gálatas 5:20 “… a idolatria,
a feitiçaria, as inimizades, as contendas, os ciúmes, as iras, as fações, as
dissensões, os partidos…”
O alcoolismo como causa e
consequência.
Especialmente hoje, numa
sociedade encharcada com tanta informação as nossas preferências inclinam para
a nossa conveniência.
- A David convinha-lhe que embriagar
Uzias para que fosse para casa dormir com a sua mulher para encobrir o seu
adultério;
- Absalão. II Samuel 13:28
“Absalão avisou os seus homens: Esperem até que Amnom esteja embriagado e a um
sinal meu matem-no!”
As pessoas consomem bebidas
alcoólicas por um hábito cultural, para celebrar uma ocasião especial mas
também o usam como um fim para atingir um fim perverso. Usam a bebida para
cometer um ato, fazem-no porque são perversas. Não foi a bebida que lhes deu
essa natureza, elas já eram más antes de ter bebido. Não se pode dizer que numa associação
“crime+bebida” o álcool esteja primeiro e seja o culpado, não, a natureza do individuo é o principal detonador da explosão, da barbárie.
Por outro lado, para juntar “à festa” para justificar a necessidade de beber temos
os mitos sobre as bebidas alcoólicas: o álcool aquece; dá força; faz bem ao
coração…, largamente combatidos pelas organizações de saúde públicas e
privadas, juntam-se agora as indústrias de bebidas a lançar novas mentiras: o
vinho emagrece; um copo de vinho ajuda a dormir bem, equivale a uma hora de desporto, etc... Como se a ganância
não ficasse por aqui a própria União Europeia financia estudos a universidades
para provar os benefícios do vinho em PESSOAS SAUDÁVEIS!
Nota-se clamente que ss indústrias de bebida manobram
a sua mensagem de acordo com as preocupações sociais das pessoas. Se a “onda” é a saúde
mental, uma cerveja ajuda a prevenir o Alzheimer; se os Jogos Olímpicos estão
para breve, um copo de vinho é o equivalente a uma hora de exercício por dia.
“Tudo me é lícito mas nem
tudo me convém”. S. Paulo, apóstolo.
A Bíblia oferece-se portanto
ao Homem como um manual para a vida. Quem segue o padrão de Deus, vive melhor.
Fundamentados neste
pressuposto inicial, de que o problema está radicado no coração humano, na
nossa avidez e desregramento, vulgo pecado – palavra sumário de tudo o que nos
prejudica a vida – defendo a tese de que o alcoolismo resulta em primeira
estância da quebra de uma lei moral, de uma desobediência a Deus, do
desrespeito por si próprio, da avidez pela auto-satisfação, pelo prazer ou pela
necessidade de desinibição.
Também, é inevitável afirmar que em grande parte o
alcoolismo é o resultado da ignorância, a qual é transversal em todos os
extractos sociais, médicos inclusive. Há médicos mal formados, mal informados e
que erram no diagnóstico dos seus pacientes. O alcoolismo está presente desde
os palácios presidenciais até à cabana mais remota numa selva.
Estudos promocionais de
bebidas.
Repare neste texto curioso e como um estudo realizado por uma pessoa credível pode afetar o nosso comportamento relativamente à bebida alcoólica.
“Homens precisam
sair e beber com os amigos duas vezes por semana, diz estudo
Um estudo
britânico, afirma, que para melhorarem a saúde mental, os homens devem sair e
beber com os amigos duas vezes por semana. As investigações foram conduzidas
pelo departamento de Neurociência da Universidade de Oxford.
As conclusões das
pesquisas indicaram que os homens devem aproveitar as noites passadas com os
amigos. A prática de desportos em equipa também foi referida no estudo como um
ingrediente fundamental para a saúde masculina. “Os laços de amizade são
criados através de uma série de actividades ou simplesmente através de um
copo no bar com os amigos”, afirma Robin Dunbar, responsável pela investigação.
O estudo sugere
que os homens para desenvolverem a suas relações interpessoais, devem
reunir-se em grupos com um mínimo de quatro pessoas.
Além do convívio
social, também é referido que os homens, tornam-se mais atraentes quando estão
em grupo, facto que contribui para o bem-estar psicológico.”
Estranha relação esta entre
uma indústria de bebida e um psicólogo antropologista investigador:
No estudo de Robin Dunbar
qual é o ênfase? As relações sociais ou a bebida? É possível que as relações
sociais sem bebida alcoólica também sejam relações sociais saudáveis? Normais? Entre
pessoas e bebidas (ou as indústrias) quem é mais importante? Mas o que pode ser
pior no meio de tudo isto, e perverso, poderá ser quem financiou o estudo. Não consegui descobrir a companhia em referência no artigo.
“What do one of the oldest beer companies in the world and anOxford professor of psychology have in
common? They both think men need more time together. Drinking beer. And playing
sports.”
“What do one of the oldest beer companies in the world and an
“O que uma das companhias de
cerveja mais antigas do mundo e um professor de psicologia de Oxford têm em
comum? Ambos pensam que os homens precisam de estar mais tempo juntos. Beber
cerveja. E praticar desporto.”
As pessoas, a nossa
preocupação é as pessoas.
Em primeiro lugar os que não
têm a capacidade de se proteger a si próprios: as crianças e os conjugues
vítimas. Depois, ou em simultâneo, cuidar do indivíduo incapacitado de
controlar a sua própria vida.
O ser humano deve ser o
centro da nossa missão: nós próprios, o cuidado por nós mesmos, e o nosso
semelhante. Hoje em dia temos razões, até para desconfiar da indústria
farmacêutica, pois já há muito que se perdeu o pioneirismo de Louis Pasteur ou
Alexander Fleming. Quem descobrir a cura para o Câncer ou para o HIV ficará
multi-milionário.
Ponto único: As indústrias
de bebida, quaisquer delas, não têm qualquer preocupação com as pessoas.
Apenas pessoas se preocupam
com pessoas. Deus deu exemplo disso – deu-nos Jesus. Jesus preocupa-se com
pessoas – deu exemplo disso quando numa festa, em atenção aos noivos,
transformou água em vinho.
Soluções para as pessoas.
“Criar um manual de
sobrevivência num mundo hostil”. Utópico, não funciona. Tudo o que já está
disponível sobre essa matéria já existe e não funciona de todo. Já existe
matéria mais do que suficiente para ajudar as famílias e o alcoólico. Mas vamos
rever algumas estratégias básicas:
Prevenção.
Prevenção.
É da responsabilidade de
toda a sociedade e não um exclusivo dos governos promover e facilitar
informação adequada sobre as bebidas alcoólicas. Produzir leis que dificultem a
utilização destas substâncias também é uma forma de prevenção.
Tratamento.
Não há cura para o
alcoolismo. Pode chamar-se tratamento a uma desintoxicação e à reabilitação do
indivíduo para o seu regresso a uma vida sóbria em família, no seu emprego e
restantes atividades sociais mas um alcoólico, se o diagnóstico esteve correto, não poderá voltar a beber álcool. Em contexto cristão existe uma cura sim, é a cura da alma. O ofensor precisa de tomar consciência do seu erro, dos atos que se lembra e dos que não se lembra, arrepender-se e pedir perdão. Isso é essencial para uma vida TOTALMENTE LIVRE.
Prevenção de recaída.
As recaídas entre alcoólicos
são muito frequentes. A ilusão e o sonho de muitos alcoólicos, especialmente os
que fizeram algum programa uma primeira vez, é incorrer na presunção de achar que
poderão voltar a ser bebedores normais como os restantes cidadãos.
Efetivamente, torna-se necessário integrar a família num novo conceito de vida
sem bebidas alcoólicas e educar tantos quantos possível à sua volta para
abandonarem o comportamento de “pressão social”.
Incutir novos valores.
Regressando à questão
básica, de que o alcoolismo não é só consequência de uma sucessão de erros mas
também causado pelo Homem errante, é da responsabilidade de todos nós remeter a
bebida alcoólica para um plano reduzido no nosso comportamento e preferências, não provocar em
ninguém o consumo de bebida e não servir de “tropeço” a que quer que seja pela nossa
liberdade.
Exemplo pessoal.
A abstinência, como escolha por
parte de quem pode beber livremente, ou seja, moderadamente, ou melhor, dentro
dos limites cientificamente recomendáveis, sem causar qualquer dano a si próprio
ou a alguém, parece ser tão complexo como para o dependente crónico resistir a
uma bebida. Neste contexto alguns cristãos cometem algumas imprudências
desnecessárias. Beber vinho, está contextualizado num direito legítimo e de
liberdade pessoal, enquanto que a abstinência está para um ato de solidariedade e
responsabilidade para com o próximo.
Romanos 14; I Coríntios
8:8-13
Samuel Dias
Samuel Dias
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