Uma das regras gerais sobre grupos de partilha, apoio ou
auto-ajuda é: “Não dê conselhos a menos que isso lhe seja pedido.”
Mas porque não daremos conselhos a que tem uma vida tão
desgraçada que se percebe claramente que precisa de orientação? Há várias razões
porque não devemos fazê-lo. Em contrapartida devemos fornecer boas ferramentas
às pessoas para que elas, autonomamente, possam tomar decisões que lhes
permitam seguir num rumo diferente na sua vida.
Se a vida da pessoa está tão confusa um conselho mesmo que
aplicado não irá mudar toda a sua vida. Uma mudança de vida precisa de vários
ajustes e não apenas um. O enredo da vida da pessoa com problemas pode ser de
tal dimensão que um conselho isolado não passa de um biscoito comparado a um
banquete farto.
A pessoa não disse tudo da sua vida.
Não, não disse. Nem que esteja uma hora a falar não terá
dito o mais importante. Haverá muita coisa escondida que não é partilhada em
grupo, especialmente se for a primeira vez que participa no grupo. Até que a
pessoa ganhe confiança com todos os presentes, precisará de os conhecer também
primeiro.
O conselho pode ser desadequado.
Os problemas das pessoas não se resumem a “tenho que parar
de beber” ou “tenho que parar de jogar”. Por detrás de um comportamento, de um
vício, de um lar destruído, de uma rejeição, de um problema financeiro, pode
estar uma pessoa mal informada, com má formação de carácter, enredada numa teia
de jogos, pressões, maquinações, ou, doente psicologicamente em níveis de
incapacidade difíceis de penetrar até pelo psiquiatra mais perspicaz do
planeta.
A pessoa precisa de um novo rumo na sua vida.
Um conselho apenas, não muda a vida de ninguém. Um conselho
pode orientar a pessoa numa determinada direção mas quando surgir o primeiro
obstáculo ela irá bater de frente contra o muro de novo. É uma ingenuidade, se
não mesmo uma imprudência, pensar e dar um conselho, esperar que a pessoa mude
a sua vida de um momento para o outro. O que muda a nossa vida são as nossas
decisões. Decisões sábias e saudáveis é que fazem a diferença no nosso futuro.
A pessoa precisa de falar.
As pessoas que têm problemas precisam muito de desabafar,
ser ouvidas, e muitas vezes não têm com quem o fazer. Se a pessoa falar, essa
oportunidade só por si produzirá nela um clima de aceitação, na medida em que
também ouve o que os outros têm para partilhar. Finalmente a pessoa começará a
compreender por onde terá que começar a introduzir mudanças na sua vida e ao
seu ritmo próprio. Há pessoas que mudam de um dia para o outro mas há outras
que progridem mais lentamente.
As pessoas precisam de abrir a sua mente para novas
oportunidades.
Oportunidades que não vislumbravam que existissem ou as
pudessem alcançar. Com o tempo a pessoa ajustará a si própria as medidas que melhor
se ajustam às mudanças que necessitam, porventura com os exemplos de vida que
observou à sua volta.
Cada um é responsável pelas suas próprias decisões.
Muitos dos desastres na nossa vida são fruto de decisões irresponsáveis. Se dermos algum conselho, qualquer que seja, e a pessoa o seguir, ela poderá fazê-lo sem responsabilidade pessoal e se (esse conselho) não funcionar poderá culpá-lo (a si) do erro que ela de novo cometeu.
Muitos dos desastres na nossa vida são fruto de decisões irresponsáveis. Se dermos algum conselho, qualquer que seja, e a pessoa o seguir, ela poderá fazê-lo sem responsabilidade pessoal e se (esse conselho) não funcionar poderá culpá-lo (a si) do erro que ela de novo cometeu.
Conselhos também são úteis…
Mas não num grupo de partilha. Imagine que você dá um
conselho específico a alguém e outra pessoa que está a ouvi-lo também o aplica,
mas num contexto social completamente diferente… Pense nisso.
Há sempre barreiras que ultrapassam o nosso conhecimento.
Pessoas de culturas diferentes pensam de forma diferente.
Pessoas com formação diferenciada têm perspectivas dos mesmos assuntos completamente
diferentes. Pessoas com heranças comportamentais familiares têm sonhos e
prioridades completamente diferentes também. Um conselho dado pode também ser
uma tentativa de impor um conceito que é nosso, conceito esse, que pode ser
religioso, cultural, político, etc…, mas porventura desajustado à realidade ou
necessidade do nosso interlocutor.
Desfocagem.
Tal como um médico pode ser iludido pelo seu paciente que se
queixa de dores no estômago ou insónias mas na verdade ele tem um problema no
fígado por causa do excesso de bebida, nós seremos muito mais depressa induzidos em erro. Não podemos ter a pretensão de ser
melhores que os especialistas clínicos.
Há pessoas que simplesmente não gostam de conselhos.
Ou então experimente correr o risco de abrir a sua boca e sem saber o cônjuge está presente. Há também os que não gostam de conselhos porque simplesmente são orgulhosos.
Há pessoas que simplesmente não gostam de conselhos.
Ou então experimente correr o risco de abrir a sua boca e sem saber o cônjuge está presente. Há também os que não gostam de conselhos porque simplesmente são orgulhosos.
E suma, um grupo de apoio gera um melhor ambiente de aceitação
se todos tiverem a oportunidade de compartilhar as coisas que funcionaram ou
não funcionaram na sua vida. Dar conselhos em grupo pode gerar um clima de controvérsia se
porventura alguém não concordar com o conselho dado e isso irá frustrar a
pessoa e fazer com que ela não volte. Não dê conselhos, partilhe aquilo que
Deus fez na sua vida.
Samuel Dias
Samuel Dias
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