sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Não dê conselhos num grupo de apoio


Uma das regras gerais sobre grupos de partilha, apoio ou auto-ajuda é: “Não dê conselhos a menos que isso lhe seja pedido.”

Mas porque não daremos conselhos a que tem uma vida tão desgraçada que se percebe claramente que precisa de orientação? Há várias razões porque não devemos fazê-lo. Em contrapartida devemos fornecer boas ferramentas às pessoas para que elas, autonomamente, possam tomar decisões que lhes permitam seguir num rumo diferente na sua vida.

Um conselho não é suficiente.

Se a vida da pessoa está tão confusa um conselho mesmo que aplicado não irá mudar toda a sua vida. Uma mudança de vida precisa de vários ajustes e não apenas um. O enredo da vida da pessoa com problemas pode ser de tal dimensão que um conselho isolado não passa de um biscoito comparado a um banquete farto.

A pessoa não disse tudo da sua vida.

Não, não disse. Nem que esteja uma hora a falar não terá dito o mais importante. Haverá muita coisa escondida que não é partilhada em grupo, especialmente se for a primeira vez que participa no grupo. Até que a pessoa ganhe confiança com todos os presentes, precisará de os conhecer também primeiro.

O conselho pode ser desadequado.

Os problemas das pessoas não se resumem a “tenho que parar de beber” ou “tenho que parar de jogar”. Por detrás de um comportamento, de um vício, de um lar destruído, de uma rejeição, de um problema financeiro, pode estar uma pessoa mal informada, com má formação de carácter, enredada numa teia de jogos, pressões, maquinações, ou, doente psicologicamente em níveis de incapacidade difíceis de penetrar até pelo psiquiatra mais perspicaz do planeta.

A pessoa precisa de um novo rumo na sua vida.

Um conselho apenas, não muda a vida de ninguém. Um conselho pode orientar a pessoa numa determinada direção mas quando surgir o primeiro obstáculo ela irá bater de frente contra o muro de novo. É uma ingenuidade, se não mesmo uma imprudência, pensar e dar um conselho, esperar que a pessoa mude a sua vida de um momento para o outro. O que muda a nossa vida são as nossas decisões. Decisões sábias e saudáveis é que fazem a diferença no nosso futuro.

A pessoa precisa de falar.

As pessoas que têm problemas precisam muito de desabafar, ser ouvidas, e muitas vezes não têm com quem o fazer. Se a pessoa falar, essa oportunidade só por si produzirá nela um clima de aceitação, na medida em que também ouve o que os outros têm para partilhar. Finalmente a pessoa começará a compreender por onde terá que começar a introduzir mudanças na sua vida e ao seu ritmo próprio. Há pessoas que mudam de um dia para o outro mas há outras que progridem mais lentamente.

As pessoas precisam de abrir a sua mente para novas oportunidades.

Oportunidades que não vislumbravam que existissem ou as pudessem alcançar. Com o tempo a pessoa ajustará a si própria as medidas que melhor se ajustam às mudanças que necessitam, porventura com os exemplos de vida que observou à sua volta.

Cada um é responsável pelas suas próprias decisões.

Muitos dos desastres na nossa vida são fruto de decisões irresponsáveis. Se dermos algum conselho, qualquer que seja, e a pessoa o seguir, ela poderá fazê-lo sem responsabilidade pessoal e se (esse conselho) não funcionar poderá culpá-lo (a si) do erro que ela de novo cometeu.

Conselhos também são úteis…

Mas não num grupo de partilha. Imagine que você dá um conselho específico a alguém e outra pessoa que está a ouvi-lo também o aplica, mas num contexto social completamente diferente… Pense nisso.

Há sempre barreiras que ultrapassam o nosso conhecimento.

Pessoas de culturas diferentes pensam de forma diferente. Pessoas com formação diferenciada têm perspectivas dos mesmos assuntos completamente diferentes. Pessoas com heranças comportamentais familiares têm sonhos e prioridades completamente diferentes também. Um conselho dado pode também ser uma tentativa de impor um conceito que é nosso, conceito esse, que pode ser religioso, cultural, político, etc…, mas porventura desajustado à realidade ou necessidade do nosso interlocutor.

Desfocagem.

Tal como um médico pode ser iludido pelo seu paciente que se queixa de dores no estômago ou insónias mas na verdade ele tem um problema no fígado por causa do excesso de bebida, nós seremos muito mais depressa induzidos em erro. Não podemos ter a pretensão de ser melhores que os especialistas clínicos.

Há pessoas que simplesmente não gostam de conselhos.

Ou então experimente correr o risco de abrir a sua boca e sem saber o cônjuge está presente. Há também os que não gostam de conselhos porque simplesmente são orgulhosos.



E suma, um grupo de apoio gera um melhor ambiente de aceitação se todos tiverem a oportunidade de compartilhar as coisas que funcionaram ou não funcionaram na sua vida. Dar conselhos em grupo  pode gerar um clima de controvérsia se porventura alguém não concordar com o conselho dado e isso irá frustrar a pessoa e fazer com que ela não volte. Não dê conselhos, partilhe aquilo que Deus fez na sua vida.

Samuel Dias

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