O meio cristão do qual fazemos parte tem alguma relutância ao termo, ou conceito, “autoajuda”. Mas são apenas duas as razões porque tais grupos se denominam desta forma: mantêm total autonomia em relação às instituições profissionais; e baseiam a sua atuação na ajuda mútua entre os próprios membros. Nada mais do que isto.
Em suma, em vez de “perverso”, mas ao contrário vantajoso para o desenvolvimento pessoal de cada um, é saudável que as pessoas partilhem as suas dificuldades umas com as outras, num clima de aceitação, de não julgamento e de confiança mútua. Sem rejeitar ajuda externa profissional ou os conselhos daqueles em quem confiam só o facto de ter a liberdade de “confessar as suas culpas uns aos outros” cura.
O conceito afinal resume-se nisto: no processo de cura do indivíduo o Pastor da comunidade desempenha um papel de orientador que mostra o caminho de acordo com os princípios da Palavra de Deus. O grupo de apoio é o meio familiar em que o indivíduo se fortalece e ganha resistência para alcançar o projeto do Criador para a sua vida pessoal. Naamã teve a orientação do profeta Eliseu, mas foram os seus amigos que lhe disseram que deveria mergulhar no rio e resistir à tentação de desistir a meio do processo (terapêutico). Do mesmo modo, o trabalho do médico, do psicólogo ou do psiquiatra, não dispensa a colaboração de todo o núcleo familiar, quando ele é saudável e cooperante, e se existe, claro.
Os grupos de apoio são como “fontes” que reúnem pessoas que têm uma necessidade especial de beber daquela “água”. Os seus amigos mais íntimos têm uma melhor compreensão da dimensão do problema. Aquilo que a pessoa não consegue dizer durante a toda a vida a “qualquer” pessoa ou a um grande grupo, conseguirá fazê-lo com alguém que tem uma experiência semelhante. Se porventura, o obstáculo é intransponível, a pessoa aprenderá a lidar melhor com a sua dificuldade ou eventualmente descobrirá com mais facilidade o caminho que pode ajudá-la a alcançar o milagre que precisa.
A evidência também testada ao longo de anos pelos que estudam estes fenómenos, como se os pudéssemos rotular desta forma, é que as pessoas aprendem a arrumar e a separar melhor cada dificuldade, eliminando uma de cada vez. Outra grande vantagem é que as pessoas adotam uma postura de consciência pessoal de que precisam de se desenvolver como pessoas, à semelhança dos que já alcançaram algumas vitórias pessoais, e isso é possível também com o contributo do espírito de aceitação tal como a pessoa é, de pertença, e de promoção de uma maior autoestima! Com a autoestima já não temos a dificuldade referida no início, não é verdade?
Os grupos de apoio mais conhecidos no mundo.
Os grupos de apoio mais conhecidos são os dos A.A., Alcoólicos Anónimos. Têm o mérito de dar prestígio a um dos métodos mais eficazes do planeta na recuperação da sobriedade de muitos alcoólicos. Depois deles outras variantes mais ou menos idênticas deram esperança a centenas de milhares de pessoas e famílias com as dificuldades mais variadas. O método, com os seus 12 passos e 12 tradições, iniciado em 1935, convida também ao desenvolvimento de uma espiritualidade (indefinida), a uma relação com “um poder superior” (seja ele qual for), a fim de promover a aceitação de todos sem qualquer discriminação das convicções religiosas de cada um, ou ausência delas.
Em 1948, em Chicago, o Dr. William Seath, diretor da “Association of Gospel Missions” reconheceu o esforço dos A.A. para ajudar pessoas a recuperar a sobriedade. Contudo ele entendeu que um relacionamento pessoal com Jesus poderia ajudar os alcoólicos ainda mais, pois começou também a haver algum descontentamento na área cristã por motivo do abandono da fé em Jesus Cristo como O poder libertador. Inicialmente o grupo que ele fundou foi conhecido como o "13º passo" mas depois o nome foi mudado para “Alcoólicos Vitoriosos”. Esta terá sido a primeira abordagem cristã utilizando o mesmo conceito de ajuda a pessoas com problemas de álcool. Em vez das 12 tradições dos A.A., os A.V. utilizam também como opção os 12 passos e um compromisso de quatro etapas para crescimento espiritual e discipulado cristão.
Breve historial de grupos na Cruz Azul.
Os grupos de apoio da Cruz Azul, a nível internacional, são mais de 1.000. Cerca de 400 estão na Alemanha e mais de 100 no Brasil. O Brasil iniciou recentemente a utilização deste conceito com as crianças filhas de alcoólicos, outros dependentes e não só.
Em Portugal a Cruz Azul começou a lidar com grupos de apoio np ano 2000. Foi uma experiência saudável e chegámos a ter 3 grupos em funcionamento. Infelizmente tivemos que suspender esta área de intervenção por motivo da atribuição do terreno à Cruz Azul por parte da Câmara Municipal do Seixal. A Cruz Azul sofreu o impacto de uma oferta de uma dimensão enorme sem estar preparada para tal, além de que ficou sem o apoio da igreja local que mais se empenhava no desenvolvimento da Cruz Azul - A Igreja Viva Assembleia de Deus do Fogueteiro.
O presente ponto de situação.
Chegámos a um ponto da nossa vida como instituição em que não podemos adiar por mais tempo o reinício desta estratégia de trabalho. O terreno da Cruz Azul alcançou um ritmo de crescimento próprio faltando agora que as pessoas possam tirar proveito daquele espaço extraordinário. Em boa consciência, o trabalho e missão da Cruz Azul é lidar com indivíduos e famílias, não apenas com aspetos materiais. Contudo, seria uma incoerência, face aos recursos existentes, desistir daquele espaço o qual pode parecer-nos enorme agora, mas no futuro será decerto muito pequeno.
No nosso país, à semelhança do que vem acontecendo em muitos lugares, também na Cruz Azul tornou-se indispensável o trabalho com famílias. O nosso projeto de grupos de apoio inclui três áreas de intervenção:
- Famílias;
- Relações sociais e desenvolvimento pessoal;
- E comportamentos compulsivos.
Em concreto, a Cruz Azul funciona como uma “loja de ferramentas” em que cada grupo, comunidade ou igreja utiliza como melhor entender que se ajusta à realidade e necessidades locais. Sem contradição do que foi dito anteriormente, naturalmente, tem de haver elos comuns, pois se assim não fosse a Cruz Azul não seria necessária como parceiro neste tipo de intervenção.
A nossa disponibilidade e interesse aplica-se em primeiro lugar às igrejas que já apoiam a Cruz Azul pois não requeremos nenhum acréscimo ou encargo financeiro adicional. Pedimos que haja a máxima discrição no uso de imagens dos participantes dos grupos de apoio nas redes sociais. As redes sociais assim como a generalidade internet são um instrumento útil e não queremos que seja nosso inimigo.
Voltando aos grupos, a nível evangélico, é de longe reconhecido o papel que os pequenos grupos têm desempenhado nas diferentes estratégias das igrejas locais, organizações ou grupos de líderes: grupos familiares, células, grupos vida, grupos de encontro, grupos de apoio, etc... O nome pode variar mas o princípio básico que dá origem à sua existência é o mesmo que faz sobreviver o "confessionário" na igreja tradicional católica - as pessoas precisam de ter um espaço de partilha, tanto dos seus fracassos como das suas vitórias.
Participar num grupo de apoio não é apenas uma necessidade de pessoas doentes, viciados ou indivíduos com perturbações psíquicas. As pessoas têm uma espécie de “gene tribal” com o qual precisam de se identificar socialmente. Seja num clube de futebol, num clube de golf, numa religião, numa taberna, numa atividade desportiva. As pessoas têm necessidade de um grupo social de pertença, de se sentir presentes no meio dos seus pares, aceites e úteis em algum lugar.
Recentemente passei pela experiência de ter que fazer um tratamento numa clínica de fisioterapia por motivo de uma tendinite no ombro direito. No decorrer de várias conversas a fisioterapeuta acabou por confessar que por causa da crise económica que o país atravessou já tinham sido dispensadas mais de vinte fisioterapeutas. As pessoas frequentavam o local só para conversar e os médicos de família sem ter que ir à consulta médica só para conversar umas com as outras a pretexto de necessidade de uns exercícios. Não estavam doentes! Como o Estado pagava, e o médico de família facilitava, então usufruíam desta extraordinária necessidade que é "pertencer a um grupo social".
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Buscamos uma liberdade autêntica que nos permita crescer e viver harmoniosamente em família e em comunidade, de forma a ajudar outros a alcançar os mesmos valores.
Início dos Alcoólicos Anónimos
Início dos Alcoólicos Vitoriosos
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