segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Problemas na comunicação


Quando eu era ainda muito jovem por saber alguma coisa de música fui encarregue de dirigir o grupo musical da minha igreja local. Certa ocasião uma menina resolve entrar no ensaio a comer um gelado e claro, zeloso da minha responsabilidade e opara exemplo dos restantes…
- Não podes comer o gelado aqui dentro e durante o ensaio!
- Não és o meu pastor!

O conflito instalou-se. O ensaio não foi outra coisa senão uma desarmonia de vozes e notas musicais. Pode chegar rapidamente à conclusão que o problema reside na “autoridade posta à prova” mas passados uns anos sou forçado a concluir que deveria ter contornado a questão de uma outra forma pois eu sabia de antemão que a garota era imatura e "empertigada”, que não iria entender a minha linguagem com uma frase tão repentina e corretiva. Eu estava focado no ensaio, não no relacionamento com a equipa.

Mas então..? É preciso ser um psicoterapeuta para lidar com pessoas difíceis? Não. Basta que primeiro nos consigamos compreender a nós próprios, ter uma mente aberta para aprender e tempo para ganharmos a confiança dos outros.

Quantas vezes já fomos confrontados a necessidade de dizer algo difícil a uma pessoa e não fomos capazes? Qual foi a barreira que não conseguimos ultrapassar?

Vamos ver primeiro três aspectos essenciais no nosso relacionamento com outros.

1. Confiança.

A confiança conquista-se com a nossa presença. É um erro comum tentar corrigir alguém sem que a pessoa seja primeiramente preparada para o impacto da intervenção ou sem que reconheça a nossa autoridade para tal.

2. Autenticidade.

Todos nós nos lembramos daquela fase da nossa vida em que tínhamos dificuldade em expor os nossos erros. Escondíamos essas falhas porque não tínhamos confiança com nas pessoas que nos rodeavam. E hoje muitos ainda vivem desta forma. Erram, sabem que erram, e não têm a liberdade de se aproximar de alguém a quem possam compartilhar as suas fraquezas.

A questão do erro interfere no nosso carácter. Há pessoas que erram e não têm pudor de o fazer na frente de outros. Uma pessoa que frequente um prostíbulo às escondidas do seu cônjuge e restante família, pode eventualmente ser autêntico para com os seus amigos mais chegados, contudo, vive uma vida sem uma autenticidade absoluta. Só o facto de ter que se esconder faz com que viva em alguma forma de prisão.

3. Liberdade.

Partindo do desafio deste tema, "problemas na comunicação", quando a pessoa se encontra num ambiente de conforto e começa a libertar-se das suas pressões diárias e consegue distinguir as “prateleiras do seu armário”, fica nessa altura mais livre para começar a arrumar na sua vida - aquilo que numa só amálgama lhe parecia tão confuso.

“Amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos". A nossa vida é, na sua totalidade, desde que nascemos até que morremos, preenchida com relacionamentos. Precisamos de nos relacionar com Deus, com o seu Universo e com a terra e humanos que Ele nos ordenou para cuidar. Esta prioridade tem que nos preencher em absoluto como pessoas pois precisamos de ser únicos, racionais, criativos, relacionais.

Relacionamo-nos verticalmente e horizontalmente. A nossa relação com Deus é o resultado do esforço d’Ele próprio. Deus, facilitou-nos o acesso a Ele através do Seu Filho Jesus mas no que diz respeito ao nosso relacionamento com os outros seres humanos é que tudo se complica. Assim, do mesmo modo que a nossa relação é facilitada pelo próprio Deus também a nossa relação com o nosso semelhante requer um esforço adicional de nós próprios. Por delegação dada por Deus, eu e tu, somos a solução para um melhor relacionamento com os nossos cônjuges, com os nossos filhos, com os nossos irmãos, com os nossos amigos.

OS CONFLITOS

As pessoas vulgarmente assumem que a origem dos conflitos está relacionada com os comportamentos de indivíduos indesejáveis ou associada a ira, agressividade, verbalização negativa relativamente a alguém, um grupo ou organização, mas não é necessariamente assim. Os conflitos também fazem parte da vida e não são necessariamente destrutivos dos relacionamentos.

A pessoa em conflito consigo própria.

Lembra-se do exemplo do burro que morreu de fome por não conseguir decidir qual dos dois molhos de feno deveria comer primeiro? Assim são as pessoas também. Não sabem se hão-se escolher primeiro tirar um curso ou ter um filho, pagar as dívidas que ainda têm ou adquirirem um novo crédito para ter um carro mais recente.

Dramaticamente por vezes as pessoas também são confrontadas entre ter que escolher entre ser honesto e ter que viver num ambiente laboral que envolve enganar clientes – é quase como ter que escolher entre morrer fuzilado ou enforcado.

Outro conflito comum é a luta entre o prazer e o vício. A pessoa sabe que fumar faz mal e que isso pode destruir a sua vida mas a apetência física e psicológica é mais forte.

As pessoas em conflito consigo próprios travam um combate do género de Paulo: "Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita. Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal". Romanos 7:19-21 

A pessoa em conflito com os outros.

Algumas razões que fazem com as pessoas entrem em conflito umas com as outras:

As pessoas podem entrar em confronto por causa dos seus valores, das diferenças de idade, por terem uma ideia nova ou um ponto de vista diferente sobre uma questão absolutamente inócua para o bom funcionamento da sua família, do seu grupo social ou organização.

A competição também é um grande causador de conflitos: lutas pela utilização de recursos melhores ou mais privilégios pessoais.

Por fim, o terceiro grande causador de conflitos é a confusão na hierarquia. Quem decide ou quem manda o quê, o papel de cada um no lar, e se quem manda tem as necessárias qualificações para o fazer, desde a forma ao conteúdo.

Não é preciso ter muitos estudos para se perceber que a “falar é que a gente se entende.” Mas não precisamos de fazer só: precisamos de saber falar. Precisamos de saber O QUE falar, QUANDO falar, COMO FALAR, e por fim SE falar.

“Vi também, debaixo do sol, este exemplo de uma sabedoria que me pareceu grande: havia uma pequena cidade, pouco populosa, contra a qual veio um poderoso rei que a sitiou e construiu contra ela fortes trincheiras. Ora, aí se encontrava um pobre homem, prudente, cuja sabedoria salvou a cidade; e ninguém se lembrou desse pobre homem. Por isso eu disse: A sabedoria vale mais que a força; mas a sabedoria do pobre é desprezada e às suas palavras não se dão ouvidos. As palavras calmas dos sábios são mais bem ouvidas que os gritos de um chefe entre insensatos. A sabedoria vale mais que as máquinas de guerra; mas um só pecador pode causar a perda de muitos bens.”
Eclesiastes 9:13-18

Para conseguirmos vencer um conflito com sabedoria temos que nos acautelar contra algumas barreiras a uma boa comunicação.

Há barreiras físicas. Certifique-se que a distância entre si e o seu interlocutor é a adequada. Se entre si e a pessoa estiveram outros presentes isso pode provocar a exaltação de uma das partes. O telefone pode também ser um obstáculo pois você não sabe se o seu interlocutor está sob pressão ou exaltado pelo motivo de estar no outro lado da linha uma terceira pessoa a ouvir parte da conversa, pois não o ouve a si, mas ouve apenas a pessoa com quem você quer resolver o problema.

Seria descabido tentar resolver um problema com alguém estando os dois debaixo de chuva mas uma sala fria e mal iluminada também pode ser uma barreira, tal como balcões e vidros. A separação com um vidro pode criar uma exaltação tanto do cliente que tem nas suas costas outros utentes, como no funcionário que tem os seus colegas ao seu lado.

Use a mesma linguagem do seu interlocutor. Certifique-se de que ambos dão o mesmo significado às mesmas palavras. Grupos sociais e culturais diferentes dão significados diferentes as palavras. A ambiguidade, a ironia e mesmo uma linguagem demasiado erudita com palavras pouco usuais no uso comum da generalidade das pessoas também são um problema.

Se alguém quer resolver algo e começa a falar de outra coisa que não tem nada a ver com a questão a tratar isso pode começar a alterar o nosso sistema nervoso. Um “quebra-gelo” pode ajudar mas contornar demasiado a questão pode fazer com que a pessoa não entenda onde queremos chegar.

As pessoas também têm visões do mundo diferentes. Há barreiras ideológicas que são difíceis de transpor para a resolução de um conflito. Se você tem um conflito com alguém e sabe de antemão que a sua perspectiva sobre o aborto ou eutanásia, por exemplo, é diferente da sua, não se atreva a falar desse assunto que não tem nada a ver com a questão que você quer tratar. Tente, ao invés disso perceber se o seu interlocutor também é do Benfica!

O estatuto social do interlocutor também pode ser uma barreira difícil de transpor. As pessoas podem comunicar connosco de forma sobranceira ou subserviente, mas meio das duas deve prevalecer a dignidade e a humildade.

Não tente resolver um problema com uma pessoa que está cansada, preocupada porque o filho está doente ou tem no momento uma qualquer prioridade mais elevada para resolver na vida.

Se falharmos na compreensão destas regras então é porque falhámos na nossa capacidade de nos relacionarmos de uma forma saudável com o nosso interlocutor e em última instância estaremos diante de uma pessoa de mau carácter para a qual não temos solução se tentarmos agir sem a ajuda de outros.

“Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas.”
Mateus 18:15,16.

Samuel Dias

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