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quinta-feira, 17 de março de 2016
Sete passos para a queda
1º Beber socialmente
Quase sem nenhuma excepção, as pessoas começam a beber porque alguém lhes oferece uma bebida. Os estudantes podem beber pela primeira vez por causa do receio de os colegas se rirem deles, para provar que já são adultos, ou simplesmente por curiosidade.
Muitos tomam uma bebida alcoólica pela primeira vez nas festas de fim de ano. Na universidade, onde as ocasiões sociais são mais importantes e mais frequentes, a bebida começa a adquirir um papel mais proeminente. "É preciso beber um pouco", disse um universitário caloiro. "Todos bebem".
A "hora da hospitalidade" e o cocktail tornam-se parte aceite da vida social. Assim, o jovem que antes era um não consumidor de bebidas alcoólicas depara-se sob pressões fortes, embora subtis, para se unir à multidão. Em algumas festas, a pressão para que todos bebam é tão grande que o estudante tem que ter um copo na mão, ainda que contenha apenas refrigerante ou qualquer outra coisa, para que os outros o deixem em paz.
Ninguém, quando começa a beber, deseja tornar-se escravo do álcool. Não deseja beber até cambalear ou expor-se ao ridículo. Não deseja fazer da garrafa seu primeiro amor excluindo-se da família, dos amigos e do emprego. A pessoa raciocina: "Não é isso o que vai acontecer comigo." Considera-se forte demais para se submeter ao controle do álcool e que tem bastante vontade própria e imenso autocontrolo. É bem provável que nem mesmo perceba os sinais de perigo, até ser tarde demais.
Embora o beber socialmente seja o primeiro passo para o alcoolismo, um perigo ainda mais insidioso é a ideia corrente de que, para demonstrar hospitalidade, deve servir-se uma bebida alcoólica. Essa armadilha já apanhou muitos que, felizmente, conseguiram voltar à sobriedade.
2º Dependência da bebida.
Os motivos que o alcoólico apresenta para beber mudam subtilmente, mas de modo perceptível. Ele já não bebe somente quando recebe visitas ou quando vai visitar outros. Torna-se um bebedor habitual ou um dependente da bebida. O motivo pelo qual começou a beber determinará o tipo de alcoólico em que se tornará.
O bebedor habitual é o que está apenas começando a sentir o puxão poderoso e insistente do vício. Ele prepara uma bebida quando chega a casa, de volta do trabalho, ou depois do jantar, enquanto vê televisão. Talvez nem perceba que o hábito da bebida pode levá-lo para o alcoolismo.
Aquele que depende da bebida bebe quando as dificuldades começam a acumular-se e quando os problemas ficam grandes demais. O patrão repreende-o no trabalho; perde um grande contrato; a esposa quer comprar móveis novos; ou um cobrador irrita-se. Assim, ele bebe. A bebida ajuda-o a esquecer. Os desapontamentos e frustrações não parecem tão grandes sob o brilho temporário produzido pelo álcool.
"Sei muito a respeito dessa maneira de beber. Eu costumava fazer da bebida a minha parceira, de modo que meu conhecimento é total. Se alguma coisa me perturbasse ou irritasse, ia logo para o bar mais próximo. Nunca me ocorreu que a garrafa jamais pudesse resolver um único problema. Nem encarava o facto de me sentir pior e menos capaz para enfrentar a vida, depois que o efeito da bebida passava. Embora nessa época o meu impulso principal para beber viesse das pressões que enfrentava, estava a tornar-me viciado no álcool. E, à semelhança do bebedor habitual, não o percebia."
Na verdade, a diferença entre o bebedor habitual e o que depende da bebida é muito pequena. Ambos encontram-se nos estágios iniciais do vício.
3º Fase pré-alcoólico.
Aqui, novamente, o passo é bastante bem definido. Bem entrincheirado, agora como bebedor regular, o indivíduo começa a beber com mais pressa. Ele começa a engolir tragos de uma vez só; a beber escondido e a surripiar bebidas. Nas festas, é o indivíduo com grande coração que deseja ajudar a servir.
Com um pretexto ou outro, o indivíduo na fase pré-alcoólico conseguirá dar um jeito de ir para a cozinha preparar as bebidas. O seu copo está sempre cheio, talvez prepare uma bebida extra e beba sempre que mistura uma bebida para outra pessoa. Embora nesse ponto ele raramente aparente os efeitos de ter bebido demais, agora começa a revelar as evidências da intoxicação.
Mesmo na fase pré-alcoólico o indivíduo torna-se um mentiroso compulsivo. Ao procurar impedir que a família ou o patrão fiquem a saber que ele está a beber cada vez mais, o engano e a mentira passam a ser seu modo de vida. Se você lida com alcoólicos, isso é algo de que você nunca deve esquecer-se.
Não importa quem ele seja, rico ou pobre, inteligente ou menos culto, mais ou menos formado, se ele está a afundar-se no álcool, torna-se um mentiroso compulsivo. Habilidosamente o indivíduo na fase pré-alcoólica, consegue olhá-lo directamente nos olhos e falar com a tonalidade de quem faz um juramento solene, sem proferir uma única verdade.
4º Problema com a bebida.
Essa é a fase em que o bebedor pré-alcoólico começa a perder o controlo dos seus hábitos de beber. Até essa altura ele conseguia controlar o tempo em que começava a beber até à hora de parar. Agora, começa a beber e não consegue parar. As chamas do vício começam a aumentar, e já não consegue matar a sua sede de bebidas alcoólicas.
Começa então a passar os fins-de-semana completamente embriagado. É nessa altura que o bebedor problemático passa por grandes tormentos. Vai a algum lugar a fim de realizar um trabalho, mas começa a beber e não consegue parar. Apenas muito vagamente se lembra de algo que aconteceu.
"Jamais me esquecerei do tormento por que passei quando, certa vez, me encontrava nessa fase. Os dias anteriores à bebedeira pareciam um vazio completo. Não tinha ideia alguma do que havia acontecido, a não ser que tinha passado cheques sem cobertura por toda a cidade. Comecei a ver-me como um mentiroso, enganador, ladrão e bêbado.
Eu não teria admitido nenhuma dessas coisas a mais ninguém, mas, bem no fundo do coração, eu sabia que eram verdade. Foi uma experiência apavorante.
"Se eu tão somente pudesse resolver o problema imediato", raciocinei, "poderia cuidar das coisas daqui para frente. Se tão somente conseguir dinheiro para cobrir estes cheques, não me meterei em mais apuros como este." Contudo, a percepção enervante de estar indefeso contra a sede feroz que me estava controlando, era um tormento real.
Freneticamente, comecei a procurar respostas, mas ao mesmo tempo tinha medo de que as pessoas descobrissem a minha situação. Jamais me esquecerei da ansiedade com que fui ver um psiquiatra pouco tempo depois e de quão grande era meu desespero em procurar ajuda. Mas o orgulho não me deixava admitir a minha necessidade. O orgulho não me deixava revelar a ninguém meu problema com o álcool."
A partir desse ponto, a descida progressiva do alcoólico torna-se vertiginosa.
5º Queda no alcoolismo.
Até atingir esse ponto, o bebedor problemático consegue manter uma vida aparentemente normal. Agora, porém, seu vício crescente começa a influenciar os membros da sua família, os amigos e os companheiros de trabalho.
Chega ao ponto de sua vida girar em torno de uma única coisa: conseguir outro trago. Ele já não pode controlar a hora em que começa a beber, nem a hora para parar.
Embora possa desejar, desesperadamente, não beber, o seu próprio ser grita pedindo o álcool de que depende. Bebe porque não consegue evitá-lo, e continua a beber por longos períodos de intoxicação, porque é forçado. O seu organismo desenvolveu uma dependência do álcool que não pode ser negada. A sua existência toda torna-se uma batalha para satisfazer esse desejo insaciável e usa a astúcia quase como um instinto animal.
Como percebe o leitor, o alcoólico finalmente chega ao ponto em que sua dependência do álcool é tão completa que fica aterrorizado com o pensamento de precisar de um trago e não conseguir encontrá-lo.
Outra característica de quem cai no alcoolismo é sua atitude para com o trabalho. O alcoólico médio é um trabalhador excepcional. Quaisquer que sejam suas responsabilidades no emprego, serão bem executadas. Por estranho que pareça, essa meticulosidade também faz parte do padrão e assinala outro ponto fraco em direcção ao alcoolismo. A explicação está no motivo porque ele executa tão bem suas atribuições. Pode ser que ele não seja ambicioso ou consciencioso quando sóbrio; agora, porém, trabalha por causa do temor. No seu interior ele sabe que cedo ou tarde vai ficar bêbado e não poderá voltar ao trabalho na Segunda ou na Terça-feira. Teme que, quando o inevitável acontecer, seja despedido, a menos que tenha uma excelente folha de trabalho. Assim, ele trabalha tanto quanto pode a fim de tornar-se tão valioso ao patrão, de forma a que não seja despedido.
Outro temor pode motivá-lo a trabalhar ainda mais: ele sabe que, quando alcoolizado, fez coisas que jamais faria se tivesse estado sóbrio. Pode ser que tenha passado cheques sem cobertura, jogado ou não tenha pago a renda da casa. Ele pode até ter chegado perto de ir para a cadeia.
Ele pensa que se "der no duro" ou se for um bom vendedor e tiver um registo suficientemente alto de vendas, a empresa o ajudará. Se gostam dele, poderão adiantar-lhe dinheiro suficiente para acertar as coisas.
O alcoólico, devemos lembrar-nos, é astucioso. Ele pensa premedita os acontecimentos à sua frente. Está sempre a tentar preparar-se para o imprevisto. Ele reconhece as suas próprias fraquezas embora não as admita, e está constantemente a tentar impedir que elas o vençam.
Desde o primeiro minuto de trabalho, ele torna-se o melhor lavador de pratos, o melhor plantador de árvores ou o melhor porteiro que a firma alguma vez possuiu. Trabalha duro sem reclamar e realiza o trabalho tão bem que o chefe não pode deixar de ficar impressionado.
Depois de alguns dias o homem vai ao patrão: "Não tenho conseguido pagar a renda da casa" e mente: "o meu senhorio deu-me o prazo até hoje à noite para conseguir o dinheiro. Será que não podia dar-me um adiantamento?"
O chefe, em geral, contente em ter um empregado tão trabalhador, dá-lhe o adiantamento. Com o dinheiro no bolso, o empregado quase atropela alguém na corrida em direcção ao bar mais próximo, onde se embebeda. Este patrão não voltará a ver o seu empregado tão depressa.
Embora a pessoa nesta fase trabalhe bem, o seu motivo é totalmente egoísta. Todos os seus pensamentos e desejos são para mais uma bebida. Nessa fase da descida vemos a mudança completa da personalidade do indivíduo.
Quando a pessoa se encontra na fase pré-alcoólica, começa a mentir. Quando se torna bebedor problemático é assaltado pelo tormento do medo e da ansiedade. Está apenas a um curto passo do alcoolismo. Ao cair no vício do álcool, completa-se a mudança de personalidade.
O alcoólico não apenas mente e engana os que o cercam, mas torna-se também autocentralizado e anti-social. Não quer estar na companhia de outras pessoas, especialmente de estranhos. Prefere não comer a sentar-se à mesa com outros e muitas vezes guardará no quarto bolachas, queijo e comida enlatada para comer sozinho.
Ele esquiva-se de tomar decisões, torna-se dependente da esposa, da família e até da de toda a comunidade.
O estranho, porém, é seu orgulho; ele é orgulhoso ao ponto de se apegar a toda ilusão capaz de impedir que os outros descubram a realidade do seu carácter. Por exemplo, certo entalhador de madeira, competente, fez algumas lindas gravuras de madeira, mas recusou-se a mostrá-las ou vendê-las. Um amigo disse: "Ele colocou-se a si mesmo nessas esculturas de madeira, mas o orgulho o impede de mostrá-las." O alcoólico é, com frequência, orgulhoso demais para permitir que a esposa e os filhos recebam ajuda de qualquer espécie. Contudo, não abdica de depender dos rendimento do conjugue. Em situações como esta, o alcoólico típico quer que a esposa continue a trabalhar, porque, no fundo, teme que um dia ele possa cair em dificuldades financeiras por causa da bebida e precise dos rendimentos do emprego da esposa.
Outro jovem, conhecido meu, dependia ainda muito mais da esposa. O alcoolismo severo tirou-lhe a vida há algum tempo atrás, mas enquanto viveu contentou-se em deixar que a esposa (mãe de dois filhos pequenos) trabalhasse para sustentar a família e a ele.
Nesta fase de descida para o alcoolismo o indivíduo quase sempre perde o emprego. De uma coisa, contudo, podemos ter a certeza: a menos que alguém o agarre, lhe apresente as respostas de Cristo para sua vida e o ajude inteligentemente a vencer o seu problema, não será o último emprego que perderá por causa do álcool.
O homem, numa situação familiar média, é o que, com toda probabilidade, desenvolverá a dependência da sua família. O homem sem um lar pode, muitas vezes, tornar-se dependente da sociedade. Certo ébrio costumava passar 312 dias do ano na cadeia. O problema era sempre o mesmo: bebedice. A cadeia era um modo de vida dele. Significava calor, alimento e um lugar para dormir à noite, enfim, certa sensação de segurança.
Para outros alcoólicos o ciclo é mais complexo mas o motivo é o mesmo. Vão da cadeia para o hospital, depois para um centro, deste para a "vida normal" e novamente de volta para a cadeia.
A questão da dependência é uma das mais difíceis e sérias que o conselheiro ou a família enfrenta ao trabalhar com o alcoólico. É preciso quebrar a dependência que ele tem dos outros antes que o viciado possa receber ajuda.
6º Descida subtil ao alcoolismo crónico.
A menos que o mergulho do bebedor problemático no alcoolismo seja súbito e bem definido a queda no alcoolismo crónico é gradual. Depois de perder um emprego por causa da bebida o indivíduo consegue outro. Por algum tempo tudo correrá bem mas depois a bebida irá tirá-lo do trabalho novamente.
7º Deterioração orgânica.
O alcoólico chegou ao ponto em que já não se importa com a própria aparência. Anda sujo e com a barba por fazer. Os seus olhos ficam avermelhados e o seu rosto apresenta-se permanentemente inchado e rosado. O indivíduo já não se esforça para encobrir os seis encontros com o vício. A bebedeira constante tem-lhe custado um emprego após outro até ao ponto de já não tentar conservar o emprego.
Trabalhar, para ele, é o meio de conseguir algum dinheiro para gastar com o álcool e pagar a renda de um quarto, e, finalmente, apenas para a bebida. Visto que sua mente está confusa, não consegue emprego que requeira perícia.
A saúde do bêbado está no fim. O organismo que Deus lhe deu começa a deteriorar-se sob a negligência e os abusos constantes. Ele caminha pela rua com a aparência de quem tem o dobro da idade. Andar, para ele, é tortura, e as mãos tremem descontroladamente. Mal sobrevive com as esmolas que recebe e a subnutrição tomou conta do organismo.
Também são comuns a cirrose do fígado e as desordens nervosas e gástricas. Em países, como Portugal, onde a incidência do alcoolismo é elevada, as enfermidades do fígado são também mais frequentes. As desordens gástricas, úlceras e outros problemas digestivos causadas pelo álcool também são comuns por motivo do estômago ficar "queimado" com as bebidas alcoólicas.
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